Transporte, material e livros são alguns dos fatores que tornam o ato de se qualificar – mesmo em uma instituição pública – oneroso. Para muitos alunos, basta apertar um pouco daqui e enxugar um tanto os gastos acolá para conseguir bancar os estudos sem grandes dificuldades. Mas o caso de tantos outros é um pouco mais difícil e é aí que trabalho de assistência estudantil, com oferecimento de bolsas e auxílios, faz toda a diferença.

ASSISTÊNCIA QUE TRANSFORMA

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Nossa Senhora do Socorro, quinta-feira. O jovem Rafael Carmo está em seu puxadinho de um cômodo, onde ele faz suas refeições, dorme e passa seu tempo livre. Pela manhã, cuida de seus afazeres domésticos e se organiza para um dia que irá terminar tarde. Às 11h, pega um ônibus da rede de transporte público e vai para um restaurante próximo ao centro de Aracaju, onde trabalha como guardador de carros até às 15h. Nesse horário, ele volta para casa para se preparar para uma rotina que exige ainda mais dedicação e pela qual optou na esperança de um futuro melhor: a de encarar uma sala de aula das 19h às 22h. Rafael é estudante do curso de Desenho de Construção Civil e recebe auxílio no Instituto Federal de Sergipe (IFS) porque participa do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Sua motivação vem da expectativa de que dias melhores façam parte da sua vida, ou seja, de tornar-se um profissional qualificado e conquistar uma vaga no mercado de trabalho com um emprego formal. O caso de Rafael Carmo é apenas um do universo de 22.073 auxílios concedidos pelo IFS, por meio da Diretoria de Assistência Estudantil (Diae), entre os anos de 2010 e 2017, direcionados a estudantes comprovadamente de baixa renda. Em valores, os números da ajuda a alunos da instituição ultrapassam a casa dos R$ 40 milhões.
Em termos práticos, o IFS segue as orientações do Programa de Assistência e Acompanhamento do Educando (Praae) e é executado na forma de projetos, linhas de ações e serviços específicos para as demandas de cada campus. As bolsas e auxílios são ofertadas por meio de editais, os quais estabelecem todos os pré-requisitos que os alunos devem se enquadrar para obtê-los. Durante o período em que está sendo assistido, o discente também é acompanhado por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, bem como de outros profissionais da área de saúde. Para se ter uma ideia da importância e da dimensão do apoio da instituição para a permanência e êxito de seus alunos, o número de bolsas e auxílios concedidos saltou de 731 em 2010 para 4.598 em 2016. E, apesar de passar por um corte orçamentário em 2017, o IFS ainda conseguiu auxiliar 4.096 estudantes a se qualificar e ter a possibilidade de mudar a sua realidade através da educação.
Uma das realidades cujos auxílios contribuíram para a transformação foi a de Maria Geovânia Dantas Silva. Em 1986, quando ainda era estudante do curso técnico em Química, ela estabeleceu a sua meta profissional: retornar ao IFS como professora. Mas ela sabia, porém, que o seu sonho teria a questão financeira como entrave. Assim, recorreu a um dos auxílios institucionais como forma de dar continuidade aos estudos. Após isso, foi à luta: concluiu o curso técnico, fez uma graduação e buscou outras qualificações enquanto a sua oportunidade não chegava -nesse intervalo, chegou a ser aprovada no IFS como técnica administrativa, mas declinou do cargo. Quando, enfim, a chance bateu à sua porta, Geovânia não vacilou: foi aprovada como professora efetiva dos cursos de Química e Alimentos. “Conto a minha experiência para estimular outros alunos e fazê-los perceber que, com dedicação e aproveitamento de tudo o que a instituição oferece, é possível seguir uma carreira”, relata a professora e ex-aluna.
Auxílio à prática Além dos auxílios financeiros oferecidos diretamente pelo IFS, os alunos ainda contaram com outros serviços que serviram de grande ajuda e que representaram diferenciais para a permanência na qualificação. De 2012 a 2016, por exemplo, todos os estudantes– sejam eles em situação de vulnerabilidade socioeconômica ou não – contavam com o seguro de vida. Em 4 anos, o instituto aportou quase um milhão de reais para essa finalidade. Hoje, a cobertura do seguro alcança todos os alunos-estagiários em situação de estágio obrigatório do curso no qual estão matriculados. Outro auxílio financeiro da instituição que representa um divisor de águas na vida de muitos estudantes e os ajuda a obter uma experiência no mercado de trabalho são os estágios, que são definidos como atos educativos escolares supervisionados e desenvolvidos no ambiente de trabalho para a preparação do estudante para a vida profissional. Os estágios podem ser classificados como obrigatórios ou não-obrigatórios, conforme o projeto pedagógico do curso. Diante da importância da atividade para a futura vida profissional do estudante, o Apoio ao Estágio no IFS tem como objetivo facilitar o acesso dos estudantes às organizações governamentais e não-governamentais interessadas em disponibilizar oportunidades de inserção dos discentes no cotidiano do mercado.
Histórias de esforço e superação, como as de Rafael e Geovânia, espelharam alunos como Luís Carlos Oliveira, do curso superior em Gestão de Turismo. Ele é assistido pela instituição em muitas de suas necessidades, entre elas a financeira e a psicológica. Funcionário afastado de uma empresa de segurança, Luís passou por um trauma ao ser vítima de um assalto durante o serviço. “Os profissionais do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) perceberam que estava precisando de ajuda psicológica e passaram a me ajudar. Estou tendo todo o suporte do IFS para seguir em frente nos estudos”, diz. Já em fase de confecção de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Luís está de olho na segunda graduação: “minha meta é ser um profissional capacitado e me inserir no mercado de trabalho”. As trajetórias de vida que foram impulsionadas com a ajuda da instituição mostram a importância da aplicação da política de assistência estudantil. Desde a fundação, o IFS tem como vocação ajudar à classe menos abastada socialmente –são os chamados “desfavorecidos da fortuna”, expressão usada em 1911 para se referir ao público-alvo da então Escola de Aprendizes e Artificies, primeiro nome de uma das instituições que deu origem ao IFS. A iniciativa de criação da instituição e o apoio à continuidade nos estudos se complementam e mostram o poder de transformação que o investimento em instrução formal pode trazer para uma sociedade. Mais do que em qualquer outra área, com a educação é possível que indivíduos progridam através do seu próprio esforço – sem deixar, é claro, de ter como recurso a utilização do trampolim estrutural que só as instituições responsáveis socialmente são capazes de fornecer.
coordenação Geraldo bittencourt Reportagem ADRINE CABRAL design alex palmeira / JéSSIKA LIMA / thiago estácio Audiovisual fernando santana
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