Oficina de Turbantes provoca reflexões sociais nos alunos do campus Aracaju
Um dos objetivos da oficina buscou sensibilizar os alunos do Campus Aracaju sobre o empoderamento da mulher negra, sua beleza, amor próprio, autoestima e valores sociais democráticos, como representação cultural e empoderamento das mulheres negras
A abordagem sobre a valorização da mulher negra foi realizada nesta segunda-feira, no Instituto Federal de Sergipe, no pavilhão das salas S – campus Aracaju, numa perspectiva transversal do tema, pela Oficina dos Turbantes, ministrada por Tatiane Costa, conhecida culturalmente como Negra Luz. O evento teve como objetivo central trabalhar uma possível relação entre a beleza, o modo de se vestir, os cabelos e estratégias de empoderamento social, e foi promovido pela professora doutora Regina Célia Bastos Andrade, por meio da disciplina Educação e Diversidade, no curso técnico integrado de Química.
Na oficina, Tatiane Costa – a Negra Luz – ensinou às alunas a produção de turbantes que, na perspectiva da professora, constituem-se como expressão da cultura negra. Um dos objetivos foi provocar reflexão sobre a beleza das mulheres negras, estimular seu empoderamento social e trabalhar a autoestima, ao valorizar as raízes de sua cultura.Para Negra Luz, “os turbantes fazem parte da história dos negros no Brasil e são instrumentos de promoção da cultura, pois, o que vestimos e o que usamos nos permitem recuperar a memória de nossos ancestrais e, portanto, nossa trajetória”.
Segundo a professora Regina Célia Andrade, os cabelos sempre receberam enorme valor nas culturas de matriz africana no Brasil. Conjuntamente com o rosto, os cabelos expressam a pessoa e o grupo a que pertencia. É um sistema de linguagem que pode sinalizar posição social, identidade étnica, origem, religião, idade. Desta forma, a partir dos cabelos, pode-se valorizar memórias ancestrais e, ao mesmo tempo, respeitar-se a cultura, destaca a professora.
Cultura dos “traços finos”
Os objetivos da oficina acompanharam a tendência da discussão sobre gênero, ao problematizar o uso dos turbantes na valorização da mulher negra, uma vez que para alguns estudiosos no assunto, há o que se pode chamar de “cultura dos traços finos”, quando a sociedade indica como padrão de beleza feminina, as características físicas da mulher branca: traços finos, nariz afilado e cabelos lisos.
A oficina ministrada no IFS se fundamentou, entre outros, no pensamento de Jarid Arraes, escritora cearense, nascida em Juazeiro do Norte, que vive em São Paulo na atualidade, onde fundou a “Terapia da Escrita”, lugar onde as pessoas aprendem a se sentir mais confortáveis e perder o medo de escrever. Esse exercício é feito, segundo a própria autora, “para quem sente insegurança quando escreve e para quem prefere encarar assuntos difíceis escrevendo. Para quem quer encontrar sua voz literária e para quem quer soltar sua voz interior”, enfatiza a autora.
Em artigo da Revista Forum, online, a escritora Jarid Arraes problematiza a relação entre a valorização da beleza, pelos seus traços e cabelos, e o empoderamento das mulheres negras e seu discurso instiga a uma reflexão sobre o conceito de beleza na sociedade ocidental. “A cultura dos “traços finos” é uma tentativa de “higienização” de todo um grupo racial que já há muitos séculos é retratado como indesejável”. Jarid se refere no artigo a uma política denominada de Higienismo, disseminada no Brasil do século XIX, por meio da qual era defendido o saneamento social e se levava, para tal fim, as questões sociais e de raça.
Para a escritora, “a expressão livre e desimpedida da negritude é repudiada e, portanto, sua aparência física também é podada e as mulheres cujos traços não são finos acabam sendo hostilizadas. Aquelas que conseguem enfrentar os parâmetros da indústria da beleza e amam suas características físicas, sem recorrer a modificações corporais como rinoplastias e alisamentos, são verdadeiras guerreiras que resistem fortemente para manter a autoestima”. Foi dessa forma que Negra Luz passou a disseminar a ideia de valorização e autoestima da mulher negra por meio da Oficina de Turbantes.
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