Campus Estância lança projeto Mulheres-Meninas, Meninas-Mulheres
Iniciativa busca promover ações educacionais sobre saúde, sexualidade e maternidade para adolescentes de escolas públicas
*Por Carole Ferreira da Cruz
O projeto Mulheres-Meninas, Meninas-Mulheres: maternidade e suas interfaces mobilizou os estudantes do Instituto Federal de Sergipe (IFS) - Campus Estância na última semana. A programação ocorreu nos dias 12, 14, 18 e 19 de abril e abordou as temáticas gravidez na adolescência, pobreza menstrual, direitos humanos, infecção por HIV, prevenção a IST e testagem, métodos contraceptivos, gestação, puerpério e amamentação, importância do pré-natal e cuidados com o recém-nascido.
De autoria da professora de Biologia, Aline Sá, com o apoio da equipe multidisciplinar, o projeto busca promover ações educacionais de extensão sobre saúde, sexualidade e maternidade para adolescentes das escolas públicas de Estância, município que ocupa o 4° lugar em infecção por HIV no estado e onde são recorrentes casos de gravidez na adolescência. As atividades incluem rodas de conversa, oficinas e palestras, com foco em informação, conscientização e acolhimento.
No primeiro dia de programação, a equipe do Projeto Sangrando Amor falou sobre a falta de recursos básicos, infraestrutura adequada e conhecimento para que as mulheres tenham capacidade de cuidar da sua menstruação; de opções mais saudáveis e ecológicas aos absorventes, como os coletores menstruais e os bioabsorventes; e da importância da solidariedade e da empatia dos homens durante o período menstrual das suas companheiras, irmãs, mães e amigas.
Esse tema despertou o especial interesse de Letícia de Jesus Santos, 19 anos, do curso técnico integrado ao ensino médio de Eletrotécnica. “Gostei muito da palestra sobre pobreza menstrual, que nos fez entender melhor a dificuldade que muitas pessoas passam nesse período, nos apresentou alternativas mais sustentáveis como as calcinhas absorventes e mostrou aos meninos a importância de ser solidários com as mulheres quando estão menstruando”, afirmou.
Gravidez na adolescência
Outra pauta que atraiu a atenção dos alunos foi gravidez na adolescência, gestação, amamentação e cuidados com o bebê. “É fundamental que a escola aborde questões como essas para conscientizar os jovens, principalmente quem não tem essa educação em casa. A gravidez na adolescência não pode ser normalizada, mas é uma situação grave que acontece com muita frequência ”, destacou Anthony Gabriel Menezes Santos, do curso técnico integrado de Eletrotécnica.
As palestras contaram ainda com a participação do Coletivo Café com Ocitocinados e da Liga de Pediatria da Unit, que tem como colaboradora a egressa do campus, Beatriz Limeira. Na ocasião, os palestrantes falaram sobre a importância de uma alimentação saudável, de atividades físicas e do pré-natal durante a gestação; da banalização da cesariana em detrimento do parto natural; dos ricos da depressão pós-parto; da amamentação e dos cuidados com o bebê.
“Como ex-aluna, estou me sentindo gratificada em poder voltar aqui no IFS como universitária para falar do puerpério, que é o período após o parto até que o organismo da mulher volte às condições normais. Essa é uma fase de mudanças no sistema hormonal e endócrino, em que a mulher fica muito sensível e precisa de apoio, acolhimento e assistência da família, do marido e de quem convive com ela”, ressaltou Beatriz Limeira.
Sobre o projeto
O projeto vai acontecer em quatro etapas - sensibilização em sala de aula, divulgação nos meios de comunicação, ações conscientizadoras e encaminhamento às unidades de saúde e assistência social - e foi aprovado no edital Edital Mulheres 2023, do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). Esse é o marco inicial para uma ação continuada dentro e fora do campus.
A gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde pública no Brasil, país onde cerca de 400 mil adolescentes engravidam todos os anos, especialmente por desinformação sobre sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos. Vários são os riscos da gravidez para adolescentes, a exemplo da evasão escolar, depressão pós-parto, aborto espontâneo, complicações no parto e alterações no desenvolvimento do bebê, que pode nascer com baixo peso ou subnutrido.
O projeto quer abordar ainda os desafios da maternidade, que vão desde as transformações no corpo, limitações e riscos durante a gestação, o parto, o puerpério e a criação de um ser humano. “Sou uma mulher adulta, servidora pública, consigo manter uma logística em casa, tenho uma rede de apoio familiar e ainda assim não é muito fácil ser mulher e mãe, imagina uma adolescente, ainda na escola, que vive em vulnerabilidade econômica e/ou social”, lembrou Aline Sá.
Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, mostraram que cerca de 380 mil partos foram de mães com até 19 anos de idade em 2020, o que corresponde a 14% de todos os nascimentos no Brasil. Em 2019, essa proporção era de 14,7% e, em 2028, 15,5%. Entre os nascidos vivos de mães adolescentes, em 2020, a maior concentração ficou nas regiões Norte (21,3%) e Nordeste (16,9%), seguido por Centro-Oeste (13,5%), Sudeste (11%) e Sul (10,5%).
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