Campus Estância abre mostra de cinema sobre a Ditadura Militar
Ação interdisciplinar dialoga com o projeto Novembro Negro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas
*Por Carole Ferreira da Cruz
A II edição da mostra de cinema sobre a Ditadura Militar do Instituto Federal de Sergipe (IFS) - Campus Estância foi aberta nesta quinta, dia 16, e vai se estender ao longo das próximas quatro semanas. O objetivo é conhecer e discutir o contexto político, econômico, social e cultural do regime ditatorial no Brasil por meio dos filmes produzidos durante e após o período de 1964-1984. O evento é uma realização do Laboratório de História (LabHist) e da coordenação das Disciplinas do Núcleo Básico.
Este ano a perspectiva interdisciplinar acabou sendo ampliada para dialogar com o Novembro Negro do IFS, projeto realizado pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas (NEABI). Sendo assim, foi proposto um debate sobre a participação da comunidade e do movimento negro no processo de combate à ditadura militar brasileira, de modo a aprofundar os olhares para o entendimento sobre o papel dessa parcela expressiva da população na mobilização popular e na diversificação e representatividade da resistência ao regime.
A abertura do projeto ocorreu paralelamente à mostra de cinema no Auditório do Centro de Pós-Graduação do IFS. O Novembro Negro se propõe a contribuir com a promoção da conscientização e reflexão sobre as questões raciais, o combate ao preconceito e às desigualdades, bem como a implementação de uma educação para as relações étnico-raciais. “Essas são ações importantes e urgentes na atual realidade educacional e social brasileira”, enfatizou o professor do Campus Estância, Alexandre Santos de Oliveira, coordenador do NEABI.
Segundo Alexandre Oliveira, 2023 marca os 20 anos de promulgação da Lei 10.639/2003 que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas. “O projeto e a mostra se alinham com essa legislação e contribuem para o fortalecimento das políticas de ação afirmativa e para a promoção da equidade racial e do enfrentamento das questões raciais a partir da raiz, de modo a desconstruir estereótipos, promover o respeito à diversidade e o reconhecimento da contribuição histórica e cultural dos afrodescendentes para o Brasil ”, destacou.
De acordo com a professora de português, Alci Neves, da comissão organizadora da mostra, a inserção da temática "O papel do movimento negro no combate ao regime” foi mais que oportuna. "Ficamos muito felizes com a participação dos alunos e com as inúmeras discussões suscitadas pela exibição do filme Zuzu Angel. Acredito fortemente que somente através do exercício do olhar e do debate é possível desenvolver o pensamento crítico", avaliou.
Os alunos dos cursos técnicos integrados ao ensino médio participaram ativamente do debate após a exibição dos filmes e interagiram ainda no canal do Instagram do LabHist, onde estão sendo publicadas questões sobre a Ditadura Militar e conteúdos produzidos na edição do ano passado. Ao final da mostra, as turmas deverão apresentar um vídeo sobre a temática a partir de uma abordagem que integre as diversas disciplinas envolvidas, que vão de língua portuguesa e arte, passando por sociologia, física e matemática.
Reflexões importantes
Para Evelyn Thais Santos Alves Barbosa, 19 anos, do curso de Eletrotécnica, esse tipo de atividade interdisciplinar contribui para um aprendizado mais alinhado à realidade político-social que foi decisiva para produzir o Brasil da atualidade. “A gente teve a chance de usar o cinema para olhar o nosso passado, entender o que aconteceu e tentar solucionar o presente, ou seja, buscar os caminhos para construir um país melhor, com mais justiça, igualdade e prosperidade para todos”, destacou.
Aluno do curso de Edificações, Klayverton Ricardo Almeida, 18 anos, aproveitou o debate para fazer uma importante reflexão sobre a liberdade de expressão e informação, que é um dos pilares da democracia. “Se mesmo hoje com um maior acesso às mídias sociais nós somos vítimas de manipulações, proibições e censuras, imagine no período da ditadura militar. Muito da nossa história nunca foi contada justamente por essa falta de liberdade, por todo esse silenciamento”, opinou.
Consciência negra
O projeto Novembro Negro tem como marco o Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro para ressaltar a importância da luta e da resistência do povo negro no Brasil. A partir de ações como palestras, mostras de cinema e demais espaços de formação continuada e promoção da inclusão de conteúdos relacionados à história e cultura afro-brasileira e africana no currículo, o IFS busca capacitar os estudantes e a comunidade escolar a se tornarem cidadãos mais conscientes e críticos, capazes de analisar, compreender e atuar na sociedade de forma a promover a igualdade racial, a justiça social e a inclusão cidadã.
A ideia de dialogar com a questão racial surgiu da professora Lorena Campello, coordenadora do Laboratório de História. "Estou na comissão do Novembro Negro e na pesquisa histórica já temos muita imersão em fontes e no debate sobre a participação da comunidade e do movimento negro no processo de combate à ditadura militar brasileira. A partir dessa base documental e das discussões no âmbito do LabHist, decidimos fazer a proposta da ampliação do tema Ditadura Militar no BrasilL e inserir uma temática que somasse com a discussão posta pelo movimento da consciência negra", explicou.
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