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EDUCAÇÃO NAS REDES

Professores do IFS usam mídias sociais para tocar projetos suspensos na pandemia

Escrito por CAROLE FERREIRA DA CRUZ | Criado: Segunda, 08 de Junho de 2020, 12h47 | Publicado: Segunda, 08 de Junho de 2020, 12h47 | Última atualização em Quarta, 10 de Junho de 2020, 16h44

A intenção é não deixar os alunos sem conteúdo e buscar alternativas de ensino semelhantes à experiência em sala de aula

Por Anderson Ribeiro

Matéria Ensino remotoNão é novidade ver por aí exemplos, promovidos pela tecnologia, de superação do distanciamento social imposto pela pandemia da Covid-19. Seja por meio do WhatsApp, em que as pessoas estão interagindo mais nos grupos ou com amigos; seja pelas lives do Instagram, tão comuns nesse período de isolamento. Nunca dissemos tanto e nunca ouvimos tanto também. A tecnologia que, para muitos, aprisionou uma geração, agora se apresenta como ferramenta de aproximação entre as pessoas.

Para o psicólogo Hugo Araújo de Oliveira, esse é um olhar diferente sobre o mesmo objeto. "O problema nunca foi o objeto, mas a importância e o sentido dados a ele. É uma ressignificação do uso das redes sociais no processo de ensino-aprendizagem; uma forma menos restrita, por ser menos burocrática e também mais democrática por agregar pessoas que não fazem parte da mesma sala de aula, por exemplo", afirmou o psicólogo.

No Instituto Federal de Sergipe (IFS), desde que as aulas presenciais foram suspensas, as professoras do Campus Estância, Lorena Campello e Jocelaine Oliveira dos Santos, mais conhecida como Jô Oliveira, tiveram que paralisar as atividades de pesquisa e extensão que realizavam. Depois de muitas consultas junto aos alunos, surgiu a ideia de fazer videoconferências para não prejudicar o aprendizado e os projeos em andamento.

Profa JôPara a professora Jô, as atividades começaram no fim do mês passado. Ela ministra as "Oficinas de Linguagens: mentoria de produção de texto e formação crítica para o ENEM", selecionadas por meio de edital da Propex (Pró-reitoria de Pesquisa e Extensão). "Nosso objetivo com esse projeto era ofertar, aos estudantes do 3º ano do ensino médio da rede pública da cidade de Estância e do IFS, oficinas de produção de texto e debate crítico fundamentado, com vistas a ampliar conhecimentos da escrita e da leitura, objetivando o Exame Nacional do Ensino Médio", explicou a professora.

De acordo com Jô Oliveira, o projeto selecionou 30 alunos da rede pública do município de Estância que tiveram menores médias na Redação do último ENEM. A surpresa foi a alta adesão à videoconferência. "A adesão está satisfatória, estamos em contato constante pelo WhatsApp e pelo Instagram que usamos para esse fim. Os alunos compareceram e relataram a alegria em participar, pois consideram essa participação para o ENEM muito importante", relatou. O projeto das oficinas vai até o mês de novembro.

Fontes históricas

LorenaOutro projeto retomado por meio das novas tecnologias foi o  "Uso de fontes históricas em sala de aula e protagonismo discente na construção do conhecimento histórico", coordenado pela professora Lorena Campello. "Quando entramos em quarentena resolvi fazer uso do Instagram para propor laboratórios e desafios aos alunos seguidores. Os laboratórios propostos (@projetolabhist) buscam explorar conteúdos do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio", explicou.

Com isso a professora Lorena pretende desenvolver e aplicar metodologia de ensino-aprendizagem, além de desenvolver técnicas e métodos de pesquisa aplicados à área de História. "Fazemos o uso de vestígios da atividade humana - documentos oficiais, cartas, fotografias, diários, agendas, pinturas, filmes, documentários, cartazes, charges, música, dentre outros - para o entendimento e a construção do conhecimento histórico sobre determinado tema abordado em sala de aula", detalhou.

Antes da paralisação das atividades presenciais, a professora Lorena conseguiu desenvolver dois laboratórios com os três anos do Ensino Médio. Às turmas do primeiro ano, por exemplo, ela propôs uma atividade com jogos de dados e os alunos estão criando jogos de tabuleiros com informações sobre a pré-história. Já os alunos do segundo ano buscaram inspiração nos livros de filósofos iluministas dos séculos XVII e XVII. Com a realidade imposta pelo novo Coronavírus, passaram a ser explorados temas do cotidiano atual. 

"Propus dois laboratórios com escritos de Tucídides (historiador da Grécia Antiga que viveu entre os anos 460 a 395 a.C) sobre a Guerra do Peloponeso e a Praga de Atenas e um outro que estimulou o uso de um livro publicado no século XIX, sobre a febre amarela no Ceará. E já há uma atividade nova que será trabalhada com fontes sobre a gripe espanhola. Cada tema casa com um ano do Ensino Médio", disse.

A ideia dos laboratórios tem um objetivo bem maior e mais ousado, pois pretende inovar o ensino da disciplina História, estimulando a pesquisa-ação e o desenvolvimento de novas tecnologias, que estão sendo disponibilizadas para professores da rede federal e de outras esferas do ensino - básico, tecnológico e superior - por meio da construção de um blog e site que está em construção. "Vamos alimentar com os resultados dos laboratórios e o passo a passo dos trabalhos desenvolvidos. Assim uma rede de compartilhamento de informações e experiências tem grande probabilidade de ser ativada", completou.

Inovação no ensino

SandroMas as experiências de ensino no IFS, usando as tecnologias, não se restringem apenas aos projetos de pesquisa e extensão. Professores do Campus Propriá estão orientando os alunos por meio das redes sociais. É o caso do professor Sandro Andrade Monteiro Menezes, da área de tecnologia em redes de computadores. Ele se reúne com os alunos em tempo real por meio de algumas salas online ou por meio de lives no Instagram para discutir as atividades.

Para ter a atenção dos alunos, o professor utiliza métodos como aulas com tempo inferior às ministradas normalmente e disponibiliza conteúdos pré-gravados, exercícios e atividades de revisão nos 'drives' ou nuvens, como são conhecidos. "O acompanhamento de resultado geral eu faço pelo SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas. Mas é bom frisar que é um novo momento. Tanto professores como alunos não esperavam que batesse tão rápido na sua porta. Tem que haver uma mudança de mentalidade e não se pode achar que todos tenham que aceitar isso de imediato, mas é uma nova realidade e temos que encarar", reforçou.

Além disso, Sandro também grava podcasts sobre os assuntos - uma espécie de programa de rádio com conteúdo direcionado. "Eu entrevisto outros professores da área para falar sobre o que estamos estudando e, às vezes, eu gravo sozinho mesmo e disponibilizo", disse. "Os alunos têm encarado como um desafio. Muitos têm a necessidade de ser cobrados como em sala de aula, outros não. É uma nova realidade. Também procuro preparar um cronograma com horários em que eu daria aula presencialmente. No início foi complicado. Quase não tinha adesão dos alunos, mas depois das lives e videoconferências, o número de alunos triplicou", sentenciou.

ClebertonOutro professor que está inovando é Cleberton Soares. Ele é titular da disciplina Projeto Integrador, do curso em Gestão de Tecnologia da Informação do Campus Propriá. De acordo com ele, não houve muitos problemas em trabalhar com os alunos remotamente. "Já trabalhávamos assim antes mesmo da pandemia", disse. Para outras turmas, de início, ele fez um mapeamento dos meios digitais e outras tecnologias com maior abrangência na região do Baixo São Francisco que potencialmente poderia utilizar nesse processo.

"Acompanhando as Portarias Institucionais, lendo as orientações do Conselho Nacional de Educação (CNE) e com base no levantamento realizado, busquei conhecer as ferramentas virtuais que o IFS tem disponível. Com a deliberação do instituto para o atendimento remoto, foi priorizado o uso do SIGAA como meio tecnológico para interação com os alunos, já que é onde os alunos acompanham todas as atividades acadêmicas", explicou.

Como esperado, no início a frequência e a participação foram motivo de preocupação para professores, gerência e direção. "Para resolver esse problema, fizemos uma live pelo Instagram com o tema: e-@d - E Assim Dá?. O resultado foi animador e nas semanas seguintes a participação dos alunos ampliou e concluímos que foi uma experiência exitosa", finalizou Cleberton.

Todas essas atividades não são contadas no currículo para fins de cumprimento da grade. Mas são alternativas que o Instituto Federal de Sergipe encontrou com apoio dos profissionais da educação para diminuir os prejuízos ocasionados pela suspensão das aulas e dos conteúdos das disciplinas com a interrupção do calendário acadêmico após a pandemia da Covid-19. É uma forma também, como disse o professor Sandro Menezes, de estar perto dos alunos para não perder o contato e a relação criada com eles em sala de aula.

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