Projetos de pesquisa do IFS desenvolvem estudos socioambientais em Itabaiana
Trabalhos contam com a orientação do professor Cleidinilson Cunha, que conduziu grupos de estudo na cidade do agreste sergipano
Por: Monique de Sá
O município de Itabaiana-SE fica a 54 km de distância da capital sergipana, situando-se no agreste do estado, além de ser a quarta cidade mais populosa de Sergipe. Conhecida como a “capital do caminhão”, devido ao alto fluxo destes veículos, Itabaiana também é destaque em seu comércio. Atualmente a cidade vem sendo objeto de estudos de um grupo de pesquisadores do Instituto Federal de Sergipe (IFS), no tocante a questões socioambientais.
Desde o ano passado, um grupo de alunos sob a orientação de docentes do Campus Itabaiana vem desenvolvendo uma pesquisa que envolve a restauração de sua mata ciliar localizada próxima ao Rio Jacarecica e uma outra com questões relativas à vulnerabilidade ambiental no bairro São Cristóvão, fruto de uma expansão urbana desordenada. Os trabalhos são conduzidos pelo professor Cleidinilson Cunha e têm como coorientadores os docentes: Wedna Machado (Colégio Estadual Murilo Braga) e Eurílio Pereira (IFS), respectivamente.
As pesquisas, inclusive, foram inscritas e apresentadas na X Feira Científica de Sergipe (Cienart), realizada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e pela Associação Sergipana de Ciência (ASCi). Além disso, o trabalho que aborda os estudos no Rio Jacarecica foi premiado, sendo contemplado com uma bolsa de iniciação científica júnior.
Mata ciliar e o Rio Jacarecica
Intitulado: “Atores sociais e restauração de mata ciliar: um estudo na sub-bacia do Rio Jacarecica em Itabaiana-SE”, o projeto reuniu os estudantes do 2º ano do curso técnico integrado em Agronegócio, Sabrina Teles e Júlia Evangelino; e a aluna Sabrina Tavares do 3º ano do curso técnico em Manutenção e Suporte em Informática. A pesquisa teve como foco a avaliação da participação dos proprietários rurais inseridos no projeto “Águas de Sergipe” de recuperação da mata ciliar, executado pelo Governo do Estado, na sub-bacia do Rio Jacarecica.
Segundo Cleidinilson, orientador e professor do Campus Itabaiana, o trabalho nasce da necessidade de identificar os conflitos entre proprietários rurais e gestores do projeto estadual. “Sem dúvidas o projeto de recuperação de mata ciliar é fundamental para a conservação da biodiversidade e da água, evitando o risco hídrico para a produção agrícola do perímetro de irrigação. No entanto, percebemos o insucesso desta iniciativa, devido à falta de comunicação entre as partes envolvidas”, relata.
Para que a pesquisa fosse consolidada, o grupo realizou levantamentos bibliográficos, visitas de campo, registros fotográficos, georreferenciamento, além de conversas informais e aplicação de questionários, sendo, para isso, fundamental a participação das alunas bolsistas, já que mesmo em meio à pandemia (mas com os devidos cuidados sanitários), participaram de forma ativa em todas as fases do projeto.
A sub-bacia do Jacarecica é situada na bacia do Rio Sergipe e está localizada a leste do município de Itabaiana, tendo uma importância econômica grande, pois auxilia hidricamente a maioria da população agrícola daquela área. Cleidinilson ressalta que para o efetivo sucesso do projeto “Águas de Sergipe”, haveria a necessidade da participação dos atores sociais locais (proprietários rurais), tendo em vista que suas propriedades seriam alvo do plantio de árvores para possibilitar a restauração da mata ciliar.
“A comunicação deveria ser um instrumento de aproximação e reunião de forças para o sucesso do projeto. No entanto, os conflitos se desenharam desde o início. As áreas de recuperação, destinadas ao plantio das árvores, estavam sendo utilizadas para as atividades econômicas, em especial, para pecuária bovina. Não havia o desenvolvimento das plantas, pois as mesmas eram pisoteadas, ou até mesmo, serviam de alimento para o gado”, explana o docente.
Outro fator observado nas visitas de campo, também mencionado pelos proprietários, diz respeito ao período inapropriado em que se realizou o plantio das árvores, ocorrendo em uma época de menor índices de chuvas para a região, ou seja, na primavera e no verão.
Para a estudante, Sabrina Tavares, foi extremamente gratificante participar do projeto, pois trouxe a oportunidade para a discente de conscientizar-se acerca da realidade dos produtores rurais que se encontram nas proximidades das áreas de estudo. “Percebi o quanto é importante a preservação e a restauração da mata ciliar para os corpos hídricos. Vale ressaltar a importância dos meus outros companheiros de projetos, que foram fundamentais para o sucesso da pesquisa e é, claro, a valiosa orientação transmitida pelo professor Cleidinilson”, acrescenta.
Vulnerabilidade ambiental e o bairro São Cristóvão
O município de Itabaiana apresenta uma grande desigualdade entre os espaços urbanos, tendo em vista a diferença entre os bairros quanto uma ineficiente atuação do poder público na prestação de serviços ambientais. O bairro São Cristóvão, localizado na cidade de Itabaiana e objeto de estudo desta pesquisa, insere-se neste contexto de vulnerabilidade socioambiental e isso levou com que Cleidinilson desenvolvesse um grupo de pesquisa para a análise desta área.
Formado pelos estudantes do 3º ano do curso de Agronegócio: Antônio Menezes, Lara Reis e Vitória Pereira, o grupo de pesquisa traz como título do seu projeto: “Vulnerabilidade ambiental no bairro São Cristóvão em Itabaiana-SE”. Por ser o bairro de localização do campus do IFS no município, a ideia foi aproximar-se da comunidade local e identificar situações críticas no tocante ao meio ambiente, devido à presença de inundações na área.
O bairro nasce de uma expansão urbana desenfreada, não havendo planejamento em sua construção. Na área de estudo, existe um canal de escoamento das águas pluviais. Entretanto, os problemas não foram sanados devido ao transbordamento deste canal não havendo limpeza frequente e sendo um espaço de acúmulo de lixo. Fato que acarreta precariedade nas condições de vidas das pessoas que ali vivem.
“O problema está associado à ausência de um planejamento urbano que leve em conta as condições socioambientais, tendo em vista que o canal serve de escoamento das águas pluviais e da rede de esgoto local. Assim, nos períodos chuvosos, o canal transborda, maximizando o risco à saúde dos moradores, contribuindo com a difusão de doenças e perdas materiais. Há necessidade de políticas públicas de inclusão e de infraestrutura na área de estudo”, explica Cleidinilson.
A pesquisa foi realizada pelo grupo em um ano, através de visitas de campo, registros fotográficos, entre outros. A publicização dos resultados e das recomendações pode contribuir com politicas públicas que promovam a melhoria das condições de vida dos moradores. “É fato que são necessárias políticas públicas de atendimento social em virtude dos problemas de saúde e perdas materiais decorrentes do transbordamento do canal, bem como de obras de saneamento básico. Além, é claro, da promoção de ações de educação ambiental para a comunidade”, alerta o professor.
Antônio Menezes, bolsista do projeto, relata que através da pesquisa pôde compreender as condições socioambientais nas quais a comunidade local está inserida. “Nosso intuito é direcionar políticas públicas para aquela localidade a fim de sanar os problemas sofridos por aquela comunidade. Para nós, é muito gratificante saber que, de alguma forma, estamos contribuindo com a discussão dos problemas recorrentes no bairro São Cristóvão”, conclui o estudante.
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