Roda de conversa: atividade estimula apoio emocional a quem precisa de ajuda
Por mais de uma hora, aconteceu um amplo debate entre alunos, servidores e colaboradores a respeito do suicídio
Nos últimos meses, a Coordenação de Assistência Estudantil (CAE), setor do Campus Aracaju que reúne profissionais de psicologia e assistência social, tem se deparado com o crescimento de casos de depressão. São jovens estudantes que chegam à coordenação em busca de atendimento psicológico ou querendo conversar com um assistente social. Os motivos vão desde questões familiares até excesso de carga horária.
Diante desse crescente atendimento e motivados pela campanha setembro amarelo ( mês com maior índice de suicídios), os estagiários de psicologia John Lennon Aragão e Cyslaine Dias, que são supervisionados pela psicóloga do IFS, Carla Cristina Storino, propuseram uma ação de prevenção e os profissionais da Coordenação de Assistência Estudantil abraçaram a proposta.
No dia 29, ao meio dia, a CAE promoveu uma roda de conversa no espaço de convivência Leyda Regis, ambiente onde os estudantes costumam se reunir para comer , conversar e se divertir. Por mais de uma hora, aconteceu um amplo debate entre alunos, servidores e colaboradores a respeito do suicídio. As psicólogas Carla Storino e Karen Gomes Leite e os estagiários esclareceram dúvidas, falaram de mitos e verdades, orientaram como buscar atendimento e convocaram a comunidade acadêmica a apoiar a quem precisa de ajuda.
“Hoje é um dia de alerta”, definiu a coordenadora de Assistência Estudantil, Ivaneide de Jesus, referindo-se à ação. “A atividade é pertinente porque a situação é grave. Temos um numero crescente de alunos com quadro depressivo chegando à CAE. Os motivos são muitos; vão desde problemas familiares, excesso de carga horária, até questões econômicas. Isso para a cabeça de um jovem é complicado”, avalia.
A proposta da CAE é estimular que o aluno vá buscar ajuda com os profissionais da Assistência Estudantil ou então procure alguém – um colega ou professor - com quem se sente mais confortável para falar sobre as suas angústias, pensamentos e sentimentos. “Aqui há quem precise de ajuda e, ao mesmo tempo, quem pode ajudar, ouvindo , acolhendo sem criticas e depois fazendo chegar à Assistência Estudantil esse caso”
Pedir ajuda é o melhor remédio
A psicóloga Carla Storino lembra que a escola tem a função de formar o aluno integralmente, por isso o tema do suicídio está sendo debatido, ainda que fora da sala de aula. “Não se pode pensar apenas em matemática, geografia, português. É necessário ampliar esse olhar por todo esse aspecto da formação”, defende. O estagiário John Lennon compartilha da mesma opinião. “Essa atividade extrapola a perspectiva de que a escola é apenas um espaço para transmissão de conteúdo. É preciso trabalhar a transdisciplinaridade, onde as diversas áreas do conhecimento podem se comunicar e favorecer esse processo humano que não é apenas de aquisição de conhecimento mas também de cuidado e bem-estar”.
A roda de conversa foi configurada para acontecer em um local informal e estabelecer um ambiente favorável para que os alunos falassem sobre os seus sentimentos e pensamentos. “Tem gente precisando de ajuda e a escola precisa fazer alguma coisa. Ouvimos falar de jovem que se mutila fora da escola. Existe aquele com pensamento de suicídio, que a gente só sabe quando está em atendimento. Não podemos ignorar essa situação. Precisamos identificar casos que não tenha ainda chegado ao conhecimento da Assistência Estudantil, temos que acolher!”, explica a psicóloga Storino.
O objetivo da ação foi exatamente o de despertar nos alunos um novo movimento no Campus Aracaju: o de pedir ajuda. “Estamos falando para esses jovens que procurem alguém para conversar, desabafar, que possa ajudá-lo a encontrar um ponto de apoio.”
Descontruindo o tabu
O estagiário John Lennon Aragão lembra que o suicídio não é tema de uma determinada disciplina, mas uma questão que toca a realidade humana, por isso merece atenção. Embora pareça recente, essa abordagem está presente há muito tempo na humanidade.
“O tabu de se conversar sobre o ato, com medo de que a abordagem provocasse um surto de suicídio, esta sendo quebrado e está sendo construída uma nova visão do assunto. Se conversar sobre suicídio é uma possibilidade de prevenção, sim!”, explica o estudante de psicologia.
Para Luiz Heitor Saldanha de Oliveira Santos, aluno do 1º ano do curso integrado de Química, é preciso falar sobre o tema e esclarecê-lo. “O debate sobre suicídio nunca está em uma discussão do senso comum. A gente prefere discutir sobre futebol e deixar esses problemas sociais de lado. Tem pessoas morrendo e a gente não discute. Penso que é através do debate que vamos achar uma solução para os tabus no Brasil”.
O colaborador do programa de Extensão, Artur Farias, alertou para que a depressão não seja tratada como “frescura”, mas sim como doença. “Precisamos pontuar as coisas como elas são de verdade. A partir do momento que a gente encara com a seriedade que o tema merece, conseguimos construir um dialogo melhor. Se a gente sabe que tem um colega que se mutila ou está depressivo, ao invés de ficar comentando pelos corredores, chega junto ou então comunica a CAE porque esta pessoa está precisando é de ajuda”.
Os organizadores acreditam que a Roda de Conversa pode incentivar novas atividades nesse âmbito. Ao final do evento, cartilhas e ícone do laço amarelo foram distribuídos com a comunidade acadêmica.
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