Campus Estância desenvolve tijolo sustentável de conchas do mar
Projeto atende demanda social do povoado Ouricuri para construção de casas e geração de renda
Alunos do curso de Engenharia Civil do Instituto Federal de Sergipe (IFS) - Campus Estância estão desenvolvendo tijolos sustentáveis a partir do reaproveitamento de resíduos de conchas do mar. O projeto vai atender a demanda social do povoado Ouricuri, na região litorânea do município, ao ensinar a comunidade a produzir tijolos artesanais de material reutilizável para a construção das próprias casas e geração de renda extra.
A ideia é usar as conchinhas para substituir a areia na mistura com o cimento. A equipe envolvida, coordenada pelo professor Herbert Alves de Oliveira, está na fase de caracterização dos materiais, definição de formulações e busca de soluções para os problemas, como a melhor técnica de lavagem para a remoção do excesso de sal e de produção manual, já que a comunidade não dispõe de energia elétrica.
O projeto é tão inovador que não foram encontradas, até o momento, referências na literatura de trabalhos semelhantes em tijolo cimentício, a exceção de experimentos que usam a mesma linha de raciocínio em tijolo solo-cimento. “É uma opção de reaproveitamento de resíduo que estabelece uma nova forma empreendedora de produção para a construção civil e se baseia em metodologias arcaicas, do século passado, em razão das dificuldades de infraestrutura do povoado, que não dispõe nem de luz elétrica”, explicou o professor.
Outro desafio é garantir que a comunidade tenha os insumos básicos para viabilizar a produção dos tijolos. Pensando nisso, Herbert pretende submeter o projeto aos editais de fomento à ciência e tecnologia para obter recursos necessários à compra de equipamentos básicos, como formas, socador, moedor, balança, carrinho de mão etc. Também será editado um vídeo tutorial com um passo a passo de como é feito o tijolo, caso seja necessário relembrar a técnica ensinada pela equipe do IFS.
Compromisso social
Os alunos estão entusiasmados com a iniciativa. “Trabalhar no projeto dos tijolos sustentáveis tem sido extremamente gratificante. Quando soube da ideia e das condições de moradia do povoado fiquei ainda mais motivado a me dedicar a essa pesquisa. Meu objetivo é ajudar o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida dos moradores. Acredito que o papel do engenheiro civil é encontrar soluções e resolver problemas”, destacou Iranilson Santos Aquino, 24 anos, do curso de engenharia.
Para o estudante Thiago dos Santos, 24 anos, a experiência tem sido proveitosa. “Está sendo muito produtivo, por que estou aprendendo tanto sobre a parte prática da construção civil quanto a teórica, ao bater massa, misturar cimento com areia e água, ler artigos científicos e me dedicar à questão mais intelectual. É muito prazeroso fazer parte de um projeto que tem o objetivo tão nobre de ajudar a comunidade do Ouricuri e reduzir os impactos ambientais”, ressaltou.
De acordo com a secretária da Associação de Desenvolvimento Sócio Comunitário Porto Ouricuri, Claudia Ferreira Rocha, egressa do curso de Recursos Pesqueiros do Campus Estância, o IFS tem cumprido um importante papel de colocar o conhecimento à serviço da sociedade. “Essa parceria é fundamental para romper barreiras, despertar o pertencimento e a valorização do que se tem na natureza e seria descartado de forma indevida, descobrindo novos elementos para gerar um novo produto e contribuir socialmente”, opinou.
O curso de Engenharia Civil planeja realizar outras atividades de extensão com o povoado nas áreas de desenho arquitetônico, pavimentação, topografia de levantamento cadastral e de tratamento de efluentes. Os professores das disciplinas de arquitetura intencionam desenvolver projetos de desenho otimizado de residências em modelo específico para as características e peculiaridades da região, que irão favorecer a construção de casas com os tijolos ecológicos.
Sobre a comunidade
O Porto Ouricuri é um lugar de natureza exuberante e rica biodiversidade. A comunidade é formada por 40 famílias de pescadores, marisqueiras e agricultores familiares que foram assentados na região, mas sem as condições mínimas de infraestrutura. Os problemas vão desde a falta de água encanada e energia elétrica, asssim como de serviços públicos em geral. A criação da associação, em 2020, veio para mobilizar e organizar os moradores na realização de cursos, parcerias institucionais, projetos e ações de conscientização ambiental.
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