IFS realiza mapeamento da azulejaria histórica de Estância
Projeto de pesquisa busca fortalecer e valorizar vínculos e laços identitários dos moradores com os bens culturais e históricos da cidade
*Por Carole Ferreira da Cruz
O Instituto Federal de Sergipe (IFS) - Campus Estância assumiu o protagonismo no fomento de políticas públicas para a preservação do patrimônio histórico-cultural com o mapeamento, estudo e catalogação da azulejaria do município. Importante projeto de pesquisa pretende subsidiar ações de planejamento para fortalecer e valorizar os vínculos e laços identitários dos moradores com os bens culturais e históricos da cidade para evitar o avanço do processo de degradação pelas ações do tempo e humana.
Os azulejos históricos de Estância resultam num rico acervo patrimonial e foram amplamente utilizados tanto no embelezamento quanto na proteção das fachadas de casas térreas e sobrados nos séculos XVIII e XIX. Mesmo oficialmente reconhecidos como de interesse histórico e artístico, parte desse patrimônio está em rápido estado de deterioração. O acervo é de origem portuguesa e, durante a pesquisa, foram documentados mais de 20 padrões decorativos diferentes, alguns dos quais estão presentes também em cidades como Belém e São Luís.
As embarcações vindas de Portugal deixavam esse produtos na região norte e iam escoando no caminho até a Bahia. Em Estância, os azulejos chegavam através do porto e essa era a última parada antes de Salvador. Mesmo com toda a riqueza histórica e a excepcionalidade dos exemplares, ao longo dos anos o patrimônio azulejar tem enfrentado inúmeros desafios, incluindo degradação física, vandalismo e falta de conscientização da comunidade local sobre sua importância histórica.
“Por isso a ideia do projeto é documentar de maneira sistemática e, ao mesmo tempo artística, esse patrimônio, de modo a constituir instrumento de conscientização e educação patrimonial para a comunidade local da cidade”, destacou a coordenadora, professora Thalita Nascimento, que atua em parceria com a professora Ariana Salete de Moraes e mais oito alunos do curso técnico integrado de Edificações. O projeto abrange pesquisa de campo e bibliográfica, além de produção de ilustrações artísticas que serão sistematizadas em forma de coletânea.
Elaboração de catálogo digital
A equipe envolvida atua ainda no mapeamento fotográfico das fachadas em cobertura de azulejaria; visitas técnicas ao centro histórico para observação e seleção das edificações e padrões de azulejos; produção de fichas fotográficas com localização; imagem da fachada, detalhamento da azulejaria e estado conservativo; elaboração de croquis manuais dos padrões decorativos dos azulejos com uso da técnica do desenho de observação; elaboração de desenhos e de catálogo digital disponibilizado para consulta pública.
Iniciado em setembro de 2023, o projeto está na etapa final de elaboração do catálogo com todas as informações, dados históricos e desenhos elaborados desde o início da pesquisa e é um desdobramento do projeto anterior intitulado “Caminhar, parar, desenhar: registros de paisagens urbanas por meio do desenho de observação”, que buscou uma experimentação da cidade de Estância através do caminhar e sua representação por meio do desenho à mão livre.
De acordo Thalita Nascimento, em meio às oficinas Urban Sketching desenvolvidas ao longo do primeiro projeto, alguns elementos chamaram a atenção da equipe, entre os quais os conjuntos de azulejos que revestem as fachadas de diversos casarões históricos. “Daí surgiu a ideia de se estudar os azulejos de maneira mais aprofundada, fazendo um mapeamento e catalogação deles a partir de pesquisa de campo, pesquisa bibliográfica e produção de ilustrações artísticas dos elementos”, explica. .
Protagonismo dos alunos
Os alunos atuam diretamente no trabalho de campo para identificação e registro da azulejaria, na elaboração de desenhos artísticos dos exemplares estudados, na pesquisa bibliográfica sobre a história dos azulejos e da arquitetura estanciana, bem como na organização e planejamento de oficinas. Tamanho protagonismo tem transformado a forma deles se relacionarem com a cidade na qual vivem e despertado um interesse vibrante pela arte, a história e a cultura.
“A experiência que tenho vivido no projeto tem sido incrível. Estou nele desde 2022 e já presenciei inúmeros momentos gratificantes. Graças ao projeto, aprendi mais sobre o patrimônio de Estância e aprimorei minhas técnicas no desenho. Adquiri também um olhar novo para as edificações e abriu um novo horizonte para as áreas que pretendo cursar. Levarei esse projeto no meu coração e nos meus caminhos sempre!”, relatou Any Letícia Melo Pinheiro, estudante de Edificações.
Camily Cardoso Santos partilha do entusiasmo da colega de curso. “Acho que uma das coisas mais marcantes na minha vida pessoal foi a conscientização sobre esse patrimônio, como também pude conscientizar as pessoas ao meu redor, falar um pouco da história da cidade, trazendo mais conhecimentos para quem conheço. Para a vida acadêmica, de fato é de extrema importância, pois se assimila bastante com o que aprendemos no curso. Por que além de construirmos casas, podemos conservar as que já temos e a história da nossa cidade”, afirmou.
O produto final do projeto será constituído por uma coletânea com desenhos artísticos e informações sobre o patrimônio azulejar de Estância. A meta é que a pesquisa fomente um projeto piloto que possa incentivar uma política de mapeamento do patrimônio histórico no município. Dessa forma, o Instituto Federal de Sergipe atuará como agente fomentador de políticas públicas e parceiro em possíveis mapeamentos de bens culturais da região, inclusive no aprofundamento do mapeamento preliminar proposto.
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