Atividade pedagógica com a presença da etnia Xukuru-Kariri debate a cultura indígena
Atividade pedagógica de valorização da cultura indígena foi realizada terça-feira, 17, no Campus São Cristóvão, com a participação índios da etnia Xukuru-Kariri, de Palmeira dos Índios, Alagoas. Parte integrante do projeto "Cine Club Brasil Indígena: Cinema nas aldeias Xavante - ver, ouvir e debater ", mais que ter acesso à sétima arte, a comunidade acadêmica teve a oportunidade de dialogar com o povo Xukuru-Kariri.
Com o auditório lotado, os estudantes e os demais presentes aguardavam, entusiasmados, pelas informações precisas sobre a realidade social, patrimônio territorial e a cultura dos indígenas. Temas diversos foram abordados, desde a formação educacional na tribo, passando pelo uso das ervas medicinais, até a exclusão da população indígena e luta pela terra.
Ieru, o Pajé e que pouco sai da aldeia, participou do encontro. Falou sobre a religião e língua, esclareceu que apenas usam a linguagem indígena no setor religioso. “Há muito mistério nela. Não pode se aprofundar por causa da invasão dos brancos. Ainda a gente guarda a nossa cultura, não expõe para ninguém”, determina. Acerca da apropriação cultural foi firme: “índio não é folclore. O Brasil é indígena. O negro não é folclore. Nós só somos Brasil, porque somos mistura de índio, negro e branco. Eu acho isso uma falta de respeito com o meu povo”, enfatiza.
“Não estamos lendo nos livros didáticos, o que alguém que talvez nunca tenha pisado numa aldeia indígena esteja dizendo sobre índio, mas nós estamos ouvindo deles, o que hoje eles vivem, o que eles fazem e, principalmente, quem eles são”, frisa a professora Gleise Passos. A tribo Xukuru-Kariri é constituída por oito aldeias: Coité, Boqueirão, Fazenda Canto, Cafurna de Baixo, Amaro Capela e Mata da Cafurna, onde residem. Na comunidade há escola e posto de saúde, tem aulas de informática, acesso à internet, alguns estão cursando Pedagogia para se tornarem multiplicadores do conhecimento, porém, tudo fazem sem a abdicação dos valores e costumes.
Cultura
A tradição agrícola é intensa marca cultural dos Xukuru-Kariri. Como todas as etnias, dão imenso valor à natureza. A mata cura. Apesar dos postos de saúde, preferem as ervas medicinais. É na floresta que têm contato com o sagrado, com o secreto.
No Campus, apresentaram o toré, dança característica; realizaram pintura corporal na comunidade acadêmica e fizeram exposição de artesanato: corares, colares, maracás, arcos e flechas. Sobre as danças o Pajé Ieru explicou: “temos toré da chuva, toré da guerra, dança da lança, chiado da cabaça; cada costume da gente tem um significado e um propósito”, relata.
A atividade pedagógica visava discorrer sobre a história e expressões socioculturais, bem como romper com o estereótipo de índio da época do descobrimento. “Quando eu estava no Amazonas, um Yanomami falou para mim: professora não esquece da gente”, lembra Lindamar Oliveira. Segundo a docente, após muito pensar como atenderia o pedido, viu na escola o caminho para cumprir a promessa. “Hoje, toda a oportunidade que a gente tem de estar perto de um povo indígena e sensibilizar os estudantes, utilizo. Eu acredito que a resposta nós teremos daqui a alguns anos, quando se formarem e tiverem o poder da caneta”, salienta, ao reafirmar a crença em um futuro mais justo e igualitário para os povos indígenas.
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