Servidores e alunos reinventam o São João em meio à pandemia
Pequenas reuniões familiares, concursos de fotografias juninas e lives sobre cordel foram os artifícios usados para driblar o isolamento
Por César de Oliveira
A pandemia causada pelo novo coronavírus promoveu uma verdadeira reviravolta na vida de todos nós. No Instituto Federal de Sergipe (IFS), o hiato criado pela suspensão das aulas e pelo trabalho remoto evidenciou a falta que faz o calor humano nas relações interpessoais, que agora precisam se reinventar por meio da internet. Períodos como o dos festejos juninos, por exemplo, que eram garantia de celebração e alegria nos diversos campi e setores da instituição, ficaram um pouco comprometidos no contexto atual.
Só um pouco. Apesar do distanciamento imposto pela Covid-19, estudantes e servidores deram um jeito de celebrar a festividade, afinal de contas, o São João é uma das grandes marcas daquilo que se convencionou chamar de “nordestinidade”. Houve reunião com o pessoal de casa ao som de um bom forró pé de serra, concurso de fotografias de anos anteriores e bate-papo virtual sobre literatura de cordel. Tudo isso para manter acesa a chama dessa festa tão marcante em nossa identidade cultural.
Na casa das irmãs Samara e Monique, que são alunas do Campus Lagarto, todo mundo se “emperiquitou”, decorou o ambiente, preparou as comidas típicas e colocou a radiola para tocar, mas sem fazer aglomeração. Monique afirma que, apesar de neste ano existir o alerta contra o agrupamento de pessoas, nos anos anteriores também comemorou o São João em casa. Em 2020, a principal diferença foi a ausência do famoso IForró do campus, do qual, além de participar, a estudante costumava colocar a mão na massa e ajudar na organização.
“É de extrema importância que as famílias não percam suas tradições e se adaptem às novas realidades, para que se mantenha a essência tão forte da cultura e da religiosidade nordestinas”, ressaltou Monique, que é aluna do curso técnico integrado em Redes de Computadores. Se para ela e Samara os festejos juninos em casa neste ano não mudaram tanto assim, para Paulo Henrique, também do Campus Lagarto, as readaptações foram significativas.
A falta da fogueira, dos fogos de artifício e dos outros familiares geralmente convidados foi o suficiente para tornar esse 23 de junho bem incomum. “A tradição se manteve com música e comidas típicas, como canjica e mugunzá, mas apenas com meus pais e minhas irmãs”, apontou Paulo Henrique. Apesar disso, o estudante fala que percebe a cultura nordestina cada vez mais viva no dia a dia das pessoas. “A maior prova disso é termos comemorado mesmo no contextual atual”, salientou o discente.
Ações de comunicação
Mesmo com as atividades acadêmicas suspensas, alguns campi também não quiseram deixar a data passar em branco e se reinventaram nas comemorações. O Campus Itabaiana, onde os festejos juninos sempre foram celebrados com muito entusiasmo, lançou um concurso de fotografias dos anos anteriores que abrangeu toda a comunidade (alunos, egressos, servidores e colaboradores terceirizados). As fotografias inscritas foram postadas no Instagram do campus e colocadas para votação dos seguidores. O mais votado em cada categoria ganhou uma cesta junina.
“Ao final, percebemos que a proposta deu muito certo, pois houve um envolvimento além do esperado. É só observar o resultado final do concurso. Alunos e servidores compraram a ideia e entraram pra valer na brincadeira, buscando engajar os familiares e amigos no concurso”, avaliou o assessor de Comunicação do campus, Cícero Nascimento. “Deu tão certo que, nos próximos anos, tudo indica que repetiremos, mesmo tendo todas as outras atividades presenciais”, já antecipou Cícero.
Quem também está movimentando as redes sociais em ritmo de arrasta-pé é o Campus Glória. Lá, alguns projetos que já vinham sendo desenvolvidos por meio de transmissões ao vivo no Instagram foram adaptados ao período junino. O resultado disso foi uma recheada programação de lives sobre música regional e literatura de cordel. A mais recente delas, ocorrida no último dia 23, recebeu a cordelista sergipana Izabel Nascimento, que falou sobre a presença das mulheres na produção de cordel. O bate-papo foi mediado pela professora de Língua Portuguesa, Alciene Neves, que afirmou que a conversa foi tão marcante que continua reverberando até hoje.
“Foi mais que uma live, foi uma aula. Continuo recebendo feedbacks positivos. Izabel nos inspirou com a força das palavras, com sua práxis, com a forma apaixonada de ver o mundo, a vida, as relações. Foi um presente para mim”, afirmou Alciene, que é pernambucana e, apesar de estar distante da família, vestiu um vestido xadrez e preparou uma mesa junina em sua casa. “Particularmente, a live com Izabel salvou a minha véspera de São João. É preciso alimentar nossa fantasia, e a nossa cultura ajuda muito nesse sentido. Ela é alimento”, concluiu a professora bastante emocionada.
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