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Documentário de pesquisadora do IFS evidencia sentido de permanência de alunos do Proeja na instituição

Criado: Segunda, 28 de Dezembro de 2020, 16h31 | Publicado: Segunda, 28 de Dezembro de 2020, 16h31 | Última atualização em Segunda, 28 de Dezembro de 2020, 18h15

capaEm Sergipe, esta é a primeira pesquisa de mestrado a tratar da permanência de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (RFEPCT)

A história de seis alunos que sonham com a conclusão de seus estudos em nível básico é retratada no documentário: “Por que ficam os que ficam?”, da aluna, Juliane dos Santos, sob orientação da professora Maria Silene da Silva, do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) do Instituto Federal de Sergipe (IFS). O material é fruto da pesquisa da discente desenvolvida durante dois anos junto ao Programa de Pós-graduação, sendo seu produto educacional apresentando à comunidade acadêmica da instituição.

Os depoimentos dos alunos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica, na Modalidade de Jovens e Adultos (Proeja/ Campus Aracaju) são intercalados com falas de professores inseridos neste contexto educacional. As narrativas se confundem com histórias de superação com um objetivo em comum: formar-se no ensino médio e ao mesmo tempo obter um curso técnico.

O Proeja é destinado a pessoas de 18 anos ou mais, que não tiveram acesso ao ensino médio em idade regular, sendo, por isso, voltado a jovens e adultos que concluíram o ensino fundamental. Juliane ressalta que diversos motivos a levaram a pesquisar sobre o tema, entre eles a questão da desigualdade e exclusão social que permeiam o Brasil. Além disso, ela entende que é preciso dar visibilidade a este público que vivencia, minimamente, um duplo processo de exclusão: social e econômico.

Juliane dos Santos“Minha pesquisa aponta para uma desconstrução do termo evasão e adota a expressão desistência escolar como sendo a mais adequada quando se trata da interrupção dos estudos por aqueles que vivenciam diariamente as múltiplas expressões da questão social. Isto é, quando o aluno desiste não é simplesmente porque ‘não soube aproveitar a oportunidade que lhe foi dada’, mas por diversos fatores que se somam e resultam na desistência escolar, nessa renúncia do direto à educação”, explica Juliane, que é formada em Serviço Social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Um fato curioso sobre a pesquisa dela reflete em algo que Juliane vivenciou há alguns anos, quando sua mãe, Júlia dos Santos, foi aluna desta modalidade de ensino, da rede municipal e estadual. É claro que quanto mais ela ia pesquisando sobre o tema, ela acabava relacionando com a história de vida de sua mãe, que hoje é concursada da Prefeitura Municipal de Laranjeiras. “Ao final, dediquei este trabalho a ela, que trabalha como Guarda Municipal e sente muito orgulho disso. E eu, enquanto extensão sua, sinto também”, diz.

Pesquisa qualitativa

O documentário é derivado da pesquisa de Mestrado do ProfEPT intitulada: “Por que ficam os que ficam? Permanência e desistência de estudantes do Proeja do IFS, Campus Aracaju”, sendo majoritariamente qualitativa, mas também com dados quantitativos. Os números se mostram mais precisos na elaboração das estatísticas de aprovação, reprovação e desistência dos estudantes no curso de Desenho de Construção Civil, o que evidencia um alto índice de desistência, quatro vezes maior quando comparado com os estudantes que concluíram.

“Para sermos mais exatos, são 364 que desistiram e 83 que chegaram a terminar, de 503 ingressantes de 13 anos de Proeja na instituição. Além disso, trabalhamos na elaboração do perfil socioeconômico e estudantil do alunado, trazendo variáveis de sexo, idade, escolarização, cor/raça, renda, ocupação entre outras, o que demonstra haver um perfil social, econômico e cultural desses estudantes, isto é, um perfil identitário étnico-racial e de classe social”, acrescenta a mestra.

De uma história em quadrinhos ao audiovisual

Orientadora Maria SileneInicialmente, a intenção de Juliane era transformar sua pesquisa em uma história em quadrinhos, mas, após um primeiro contato com o Núcleo Interdisciplinar de Cinema de Educação da UFS (NICE), tudo se transformou. O encontro com o cinema e o audiovisual e a relação deste campo com a educação foi o impulso para esta mudança e, por isso, a escolha pelo filme documentário. “Outro elemento é a sua capacidade de abrangência, de acesso pela sociedade em um mundo hoje conectado”, ressalta.

A parceria com o NICE se deu a partir de um convênio desenvolvido entre o IFS e a UFS, através do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Cinema (PPGCINE) e do ProfEPT. E esta união só foi possível com a ajuda da professora e orientadora de Juliane, Silene da Silva, que já vinha desenvolvendo atividades com o Núcleo de Cinema.

“Este trabalho trouxe a oportunidade de me aproximar da realidade dos discentes e docentes do Proeja, de conhecer a importância desse programa enquanto política pública que precisa ser fortalecida, possibilitando a permanência desses alunos e buscando soluções para as causas da desistência. Espero que ele traga novos olhares para o Proeja tanto no IFS como na Rede, abrindo a possibilidade para o desenvolvimento de práticas educativas que favoreçam a sua permanência”, explica Silene.

Equipe da produção em reunião antes da pandemiaPor se tratar de uma pesquisa-ação, autores e atores estão conectados neste processo, que é o de investigar e o de agir (investigação-ação). Como Silene destaca “Por que ficam os que ficam?” contou com a ajuda “de muitas mãos”, entre elas estavam as da coordenadora do NICE, Beatriz Colucci, que atuou como supervisora da produção. Além dela, participaram: Diogo Teles (codiretor), Rafael Beck (assistente de direção), Vivian Oliveira (montagem) e Raul Marx (argumento).

Superando obstáculos

Quando Juliane deu início à sua pesquisa, em 2018, ela não imaginaria que enfrentaria um momento tão adverso e atípico quanto o de 2020, por conta da pandemia de covid-19. As filmagens foram feitas em formato presencial (apenas com os diretores) e algumas on-line. Segundo Juliane, o medo, e a insegurança neste período pandêmico atrapalharam um pouco o desenvolvimento de seu estudo.

Encarte do filme“Foi um ano de muitas perdas, mas também de profundo aprendizado e realizações. Como sou formada em Serviço Social, tinha poucas leituras na área da Educação, por isso desconhecia muitas coisas e este foi um grande desafio também. Outro desafio superado foi o de escrever uma dissertação e, simultaneamente, construir um filme documentário quando eu nem sequer sabia segurar uma câmera profissional”, lembra Juliane.

Os obstáculos foram superados também por sua orientadora, que atua como professora de Biologia no ensino médio e da graduação do IFS. Desde que ela se tornou docente do ProfEPT, novos desafios foram surgindo. O primeiro deles foi conhecer a própria Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica do ponto de vista de suas bases conceituais, da trajetória de mais de 110 anos de uma rede, que tem uma institucionalidade própria, uma verticalização que possibilita ao docente ministrar aulas desde a educação básica até a pós-graduação stricto sensu.

“A cada trabalho que orientamos, novos desafios se apresentam, como foi o processo de produção do documentário na interface Cinema e Educação. Foi um grande aprendizado para todos”, conta Silene.

Próximos passos

Apresentação do produto educacionalApós a defesa de sua dissertação, em uma banca formada pelos professores: Silene da Silva (IFS), Rodrigo Bozi (IFS), Beatriz Colucci (UFS) e Pablo Boaventura (UFS), Juliane garante que vem traçando novos planos para um maior desenvolvimento da temática. A ideia é que a mestra possa produzir artigos provenientes deste estudo ou até mesmo transformar sua pesquisa em um livro. “Como recomendação da banca, pretendo ingressar em um curso de Doutorado, com o intuito de aprofundar ainda mais o tema”, conclui a graduada em Serviço Social e hoje mestra em Educação Profissão e Tecnológica pelo IFS, Juliane dos Santos.

Para quem tiver interesse em conferir, o trabalho de Juliane está disponível na plataforma EduCapes e o documentário pode ser visualizado através do YouTube.

 

 

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