Pesquisa aborda educação e trabalho sob o olhar de estudantes LGBTQIA+
Documentário produzido durante o estudo retratou os anseios e as dificuldades desses alunos, oferendo um espaço de visibilidade e debate.
Por Adrine Cabral
Dar voz às pessoas que se declararam lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros (LGBTQI+) no Campus São Cristóvão do Instituto Federal de Sergipe (IFS), bem como entender seus anseios e dificuldades em relação à escola e ao mundo do trabalho foram alguns dos objetivos de uma pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPTt/IFS). Com abordagem teórica e prática, o estudo levantou dados sobre empregabilidade, preconceito no ambiente de trabalho, conceitos básicos e relatos, bem como desenvolveu um documentário com depoimentos de alunos e profissionais da instituição.
Enquanto profissional da área de Recursos Humanos, Milene Medeiros via de perto as dificuldades que as pessoas LGBTQI+ encontravam quando buscavam um emprego. Ao ingressar no mestrado pelo ProfEPT, resolveu pesquisar sobre o tema partindo do momento em que essas pessoas se preparam para o exercício das profissões, o ambiente escolar. Entre os resultados encontrados no estudo, percebeu-se a baixa empregabilidade e marginalização desses cidadãos diante da falta de oportunidade causada pelo preconceito de empregadores.
“Me deparei com estatísticas cujos números me surpreenderam em relação ao preconceito contra a população LGBTQIA+ no mundo do trabalho e no ambiente escolar. Por outro lado, me surpreendeu de forma positiva o impacto que a escola pode causar e o poder de transformação que ela tem na vida dos alunos e futuros profissionais. Quando eles se sentem bem acolhidos no ambiente escolar, passam a ter mais esperança, sonham com o futuro, acreditam e investem no seu potencial e se preparam melhor para o exercício das profissões”, explica a pesquisadora e mestre em Educação Profissional e Tecnológica pelo IFS.
De acordo com Elza Ferreira Santos, professora do ProfEPT/IFS e orientadora da pesquisa, trata-se de um estudo importante e necessário tanto do ponto de vista científico, pelo rigor técnico e metodológico como pela visibilidade que a instituição passa a oferecer à presença das LGBTQIA+, tirando-as da invisibilidade e marginalização. Durante sua aplicação, foram realizados eventos, palestras e rodas de conversa que envolveram alunos e professores do Instituto, além dos que estavam participando diretamente da execução das atividades da pesquisa.
“Na dissertação, as pessoas poderão entender conceitos básicos da nossa sociedade como, por exemplo, o que são relações de gênero, o que é mundo do trabalho, o que sentem as pessoas LGBTQIA+ na condição de estudantes em nossa instituição, como veem o ensino, quais são suas perspectivas e quais são suas dificuldades diante do mundo do trabalho. De posse disso, docentes e gestores podem elaborar projetos que minimizem a evasão e proporcionem a permanência e o êxito das pessoas que estão sob a mesma condição”, ressalta a professora Elza Ferreira.
Documentário
Além da dissertação, a pesquisa de mestrado produziu o documentário ‘LGBT e trabalho: uma jornada de conquista e liberdade’, com duração de 25 minutos desenvolvido com suporte profissional e que passou por avaliação da banca de defesa pública. Trata-se de uma produção audiovisual que conta com depoimentos de estudantes do IFS/Campus São Cristóvão sobre suas histórias, preconceitos vividos, relações familiares e como o preconceito impactam no ambiente escolar e de qualificação escolar.
“A motivação maior desse produto foi dar voz às pessoas que se declaram LGBTQIA+. Essas pessoas vivem no seu cotidiano desafios originários do preconceito e por isso direitos básicos como educação de qualidade e trabalho digno lhes são tirados. Acho importante que essas histórias sejam contadas pelos próprios protagonistas e que essas narrativas possam chegar ao maior número de pessoas possível, que não se restrinja aos muros da escola, mas chegue às empresas, às famílias e em todos os lugares. Acredito que um filme documentário é uma ferramenta de longo alcance”, analisa a pesquisadora Milene Medeiros.
De acordo com a professora e orientadora Elza Ferreira, docentes, gestores e todos os profissionais da educação do IFS poderão contar com o documentário para verem e entenderem a realidade de estudantes e, assim, por meio dos depoimentos refletirem sobre seu processo de ensinar. “A ideia é que estudantes LGBTQIA+ se sintam incluídos, que estudantes outros se solidarizem com a causa e que servidores reflitam sobre sua função na instituição”, pontua.
Para dar continuidade e visibilidade ao estudo, alguns de seus resultados foram publicados em formato de artigo no periódico Journal of Research and Knowledge Spreading, publicado pela Universidade Federal de Alagoas e pela Universidade Federal de Sergipe. Além de dados da pesquisa, aborda-se a relação entre trabalho e gênero, e algumas narrativas dos alunos LGBTQIA+ obtidas na pesquisa de mestrado.
Clique aqui para acessar o artigo ‘Educação e trabalho sob a perspectiva de estudantes LGBTQIA+ do Instituto Federal de Sergipe’
Clique aqui para acessar o documentário ‘LGBT e trabalho: uma jornada de conquista e liberdade’.
Redes Sociais